domingo, 27 de janeiro de 2013

Anatomia de uma tragédia!

Todos vimos a mídia veicular a matéria sobre a boate Kiss, em Santa maria, RS. Todos vimos, assustados, o número de mortos aumentar drasticamente. Todos vimos os depoimentos, os resgates, os mortos, os testemunhos, de quem esteve no local, antes, durante e depois dos acontecimentos trágicos.
Mas eu me pergunto: o que realmente achamos de tudo isto?
Li pessoas falando em "empatia", e em "luto". Sim, é uma grande tragédia, e como eu li, pessoas da mesma família perderam as vidas. Irmãos, primos namorados, casais... sonhos, esperanças, planos. Mas quando leio as entrelinhas da mídia, me desperta um sentimento calculista do quanto somos frios, pois a contagem dos mortos nem terminou, e já nos esforçamos em encontrar um culpado.
Foi o alvará vencido? Foram os donos do local? Foi o rapaz da banda que acendeu um sinalizador? Foram os extintores que falharam? Foram os seguranças que barraram a saída por não saber o que se passava?
Leio e releio estas notícias, e então perco o rumo da tragédia. Pessoas morreram. Amigos, parentes...
Falamos em "não podemos deixar impunes", e "não podemos esquecer desta desgraça". Mas me corrijam se eu estiver errado, não tem muito tempo uma história muito parecida aconteceu. Uma boate, uma brigada de incêndio despreparada, um alvará irregular, e tantos mortos. E o que mudou de lá pra cá?
O que realmente aprendemos com tudo isto?
Me entristece a resposta mas... NADA!
Não aprendemos nada. Sentimos a tristeza pelos mortos e feridos, pelos que se foram, pelos amigos, irmãos, pais, mães, namorados.
Mas a triste verdade é que daqui a algum tempo a notícia vai esfriar, e parar de vender jornais. Mas e a dor destas pessoas?
Aplaudo a Universidade Federal de Santa Maria que está formando um serviço de atendimento para as vítimas do incêndio e seus familiares, pois estas pessoas, mais do que qualquer um, precisarão de ajuda, precisarão conversar, lidar com suas perdas.
Na página principal de um jornal via-se uma foto do antes e depois da boate, e da destruição causada.
Mas e a dor no coração destas famílias? Quem olha por elas?
Felizmente não posso dizer que que sei como é perder alguém numa tragédia como esta, mas eu SEI como é perder um amigo cedo demais. E sei que cada um vai lidar com isto de uma maneira diferente.
Aos familiares, só posso deixar meus sentimentos, e expressar minhas condolências.
Às autoridades, deixo um apelo: Que esta trágica história não se repita, apenas para ser mais uma, esquecida daqui a algum tempo, ofuscada pelo brilho e pelo glamour do Carnaval. Como tudo neste país.
Quantas outras "Kiss"s existem por aí, com alvarás irregulares, estruturas mal feitas e irregulares, com festas acontecendo, shows, música, dança... e uma potencial nova tragédia por acontecer a qualquer momento?
Quem vai assumir a responsabilidade?
Ou vamos esperar um novo incêndio?

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Sobre a inclusão e outras idéias...

Faz realmente muito tempo que não escrevo aqui e resolvi colocar algumas considerações a cerca da inclusão...mas são só alguns pensamentos, nada conclusivo, mas é algo que venho pensando nesse tempo em que trabalho com muitas crianças incluidas na rede municipal de ensino. Já faz tempo que venho questionando a maneira como isso vem sendo feito e pensando que infelizmente, ao meu ver, nem todas as crianças incluidas estão aptas ou preparadas para frequentar uma escola regular. Acredito sim que em alguns casos essa inclusão é possivel, mas que não são em todos os casos. E penso que a longo prazo isso pode ser muito prejudicial principalmente para aquela criança que foi incluida. Vou colocar aqui um trecho de um texto escrito na Veja, da semana do dia 02 de Janeiro de 2013, escrito por Lya Luft. O nome do texto é "O ano das criancinhas mortas": "(...) Segundo, precisamos sim, rever em toda a parte nossos conceitos, leis e preconceitos quanto a doenças mentais. O politicamente correto agora é a inclusão geral, significando tambem que crianças com deficiência devem ser forçadas (na minha opinião) a frequentar escolas dos ditos "normais" (também não gosto da palavra), muitas vezes não só perturbando a turma, mas afligindo a criança, que tem de se adaptar e agir para além dos seus limites - dentro dos quais poderia se sentir bem, confortável, feliz. Pessoas com qualquer tipo de transtorno mental devem ser cuidadas conforme a gravidade de sua perturbação, que pode ser leve ou chegar a estados perigosos para si mesmas ou para os demais - o que na maioria das vezes irrompe ou se agrava no fim da adolescência. Mas em geral, pela tremenda dor de termos um filho ou filha com tais problemas, fingimos que nada ali é "anormal" (detesto essa palavra também). É feio levar ao médico a criança com transtornos psiquiátricos, porque é feio desconfiar que um filho ou filha tem esse tipo de "problema", é mais feio ainda aceitar tratamento ("remédios fazem mal", "vacina me deixa doente", "anticoncepcionais me atacam os nervos")(...) Bom...acompanho as vezes casos que pais se negam a colocar os filhos numa escola especializada. Ou se negam a levar a criança num neurologista, num psiquiatra. Não querem dar o remédio. E as vezes o sistema público tambem não oferecem todo o apoio que essas crianças precisam. É muito complicado, é um trabalho muitas vezes solitário, em que não conseguimos resultados satisfatórios e não podemos contar com um apoio. A psicologia ajuda muito, mas tem seus limites e precisa de uma série de outros apoios e considerações. É isso, volto a escrever mais sobre o tema em outras oportunidades.